quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Esquinas

 Esquinas há, tão escuras que mal se consegue passar,
Na tentativa de se apegar em algo que tenha cor...
E correm palavras que o vendo esconde,
Desabrigando promessas esquecidas...
Não sei como descrever a travessia,
A boca grita atingindo sua pele desprotegida,
Contrariando tudo que por repetidas vezes tentou se dizer, se guardar, se esquecer...

Alheia a essas e tantas outras insanidades,
Há a beleza de sonhar, ainda que no escuro,
E a realidade a acudir aos sonhos mal construídos e nebulosos,
Minha alma acabrunhada, gritando tanto que preciso ficar em silêncio por uns dias
Na tentativa de não afetar alguém

A atrocidade do ar que me falta ao espiríto,
Por vezes, tem o poder de me fazer esquecer como se respira
Talvez por calor, ou a falta de uma fresta por onde se possa escapar uma luz...
Deixe-me acreditar que a vida é como quero que ela seja
Isso não é egoísmo, talvez, apenas loucura

Matei de sede as flores que desdenham solidão, que julgam aflição!
Quem sabe se os barulhos que cessaram poderiam descrever
Tantas vezes mais o cenário de incertezas e (pré)ocupações, que se passaram?
Mas não foi por maldade, eu não estava aqui.

As vezes invocar as tardes, em que o pôr do sol não é nem de longe tão belo,
Mas que carrega consigo companhias que acariciam o coração,
Me fazem esquecer que por um periodo mesmo que indefinido
Meu espaço é meu deserto

À minha beira tenho você por abrigo
E a lembrança de uma casa que parece estar em eterna festa
Creio não desmerecer o pulsar que faz minha alma cantar sempre que passeio por teus olhos
Esses olhos que afagam minhas horas,
Que me calam quando chovem palavras por meus poros.

Me ensinaste que viver é apenas seguir tanquilamente, enquanto a vida corre
Aprendi que ter o teu destino cravado no meu corpo
Ter os teus rios  a desaguar na minha memória,
A tua voz se confundindo com minhas manhãs
A tua presença tatuada em meu caminho.

E tentar compreender como entendes a batalha que travo por dentro
E mais que tudo, ter teus olhos perdoando o meu enlouquecer
É só o que eu preciso para pintar as cores dessa arte que é viver.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A leveza e o peso

O eterno retorno é uma idéia misteriosa e, com elas, Nietzsche pôs muitos filósofos em dificuldades: pensar que um dia tudo vai se repetir como foi vivido e que tal repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito insensato?

O mito do eterno retorno afirma, por negação, que a vida que desaparece de uma vez por todas, que não volta mais, é semelhante a uma sombra, não tem peso, está morta por antecipação, e por mais atroz, mais bela, mais esplêndia que seja, essa atrocidade, essa beleza, esse esplêndor não têm o menor sentido. Essa vida é tão importante quanto uma guerra entre dois reinos africanos do século XIV se modifica pelo fato de se repetir um número incalculável de vezes no eterno retorno?

Sim: ela se tornará um bloco que se forma e perdura, e sua brutalidade não terá remissão.

[...]

Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz. Essa idéia é atroz. No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma responsabilidade insustentável. É isso que levava Nietzsche a dizer que a idéia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos (das schwerste Geewicht).

Mas será mesmo atroz o peso e bela a leveza?

O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime nos contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja o fardo do corpo masculino. O mais pesado dos fardos é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da realização vital mais intensa. Quanto mais pesado é o fardo, mais proxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.

Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semi-real, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.

O que escolher, então? O peso ou a leveza?

(A insustentável leveza do ser. Milan Kundera)


Sou admiradora desse trecho do livro de Milan Kundera, hoje, em especial fiquei pensando sobre ele, a dias tento decifrar porque a leveza para ele é insustentável, embora  o livro seja auto explicativo, mas eu queria uma resposta minha, queria entender o que é ser leve e o que é pesado, para então entender o que está sendo insustentável neste momento da minha vida, e me ocorre que a leveza têm um peso muito maior que o peso. E, é ela que me aflinge, mas na verdade não quero peso, nem leveza quero o equilibrio das coisas, o peso e a leveza na medida certa. E eu sei como fazer, mas a leveza da minha vida não tem me deixado em paz.
"A contradição pesado/leve é a mais misteriosa e a mais ambígua de todas as contradições."