quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A leveza e o peso

O eterno retorno é uma idéia misteriosa e, com elas, Nietzsche pôs muitos filósofos em dificuldades: pensar que um dia tudo vai se repetir como foi vivido e que tal repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito insensato?

O mito do eterno retorno afirma, por negação, que a vida que desaparece de uma vez por todas, que não volta mais, é semelhante a uma sombra, não tem peso, está morta por antecipação, e por mais atroz, mais bela, mais esplêndia que seja, essa atrocidade, essa beleza, esse esplêndor não têm o menor sentido. Essa vida é tão importante quanto uma guerra entre dois reinos africanos do século XIV se modifica pelo fato de se repetir um número incalculável de vezes no eterno retorno?

Sim: ela se tornará um bloco que se forma e perdura, e sua brutalidade não terá remissão.

[...]

Se cada segundo de nossa vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na eternidade como Cristo na cruz. Essa idéia é atroz. No mundo do eterno retorno, cada gesto carrega o peso de uma responsabilidade insustentável. É isso que levava Nietzsche a dizer que a idéia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos (das schwerste Geewicht).

Mas será mesmo atroz o peso e bela a leveza?

O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime nos contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja o fardo do corpo masculino. O mais pesado dos fardos é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da realização vital mais intensa. Quanto mais pesado é o fardo, mais proxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.

Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semi-real, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.

O que escolher, então? O peso ou a leveza?

(A insustentável leveza do ser. Milan Kundera)


Sou admiradora desse trecho do livro de Milan Kundera, hoje, em especial fiquei pensando sobre ele, a dias tento decifrar porque a leveza para ele é insustentável, embora  o livro seja auto explicativo, mas eu queria uma resposta minha, queria entender o que é ser leve e o que é pesado, para então entender o que está sendo insustentável neste momento da minha vida, e me ocorre que a leveza têm um peso muito maior que o peso. E, é ela que me aflinge, mas na verdade não quero peso, nem leveza quero o equilibrio das coisas, o peso e a leveza na medida certa. E eu sei como fazer, mas a leveza da minha vida não tem me deixado em paz.
"A contradição pesado/leve é a mais misteriosa e a mais ambígua de todas as contradições."

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