domingo, 31 de outubro de 2010

Mulheres do Brasil

Atoa mesmo!

No tempo em que a maçã foi inventada /antes da pólvora, da roda e do jornal/ a mulher passou a ser culpada/ pelos deslizes do pecado original./ guardiã de todas as virtudes/ santas e megeras, pecadoras e donzelas/ filhas de Maria/ ou deusas lá de Hollywood/ são irmãs porque a mãe Natureza/ fez todas tão belas./ oh! mãe,/oh! mãe/ nossa mãe, abre o teu colo generoso/ parir, gerar, criar e provar/ nosso destino valoroso./ são donas-de-casa/ professoras, bailarinas/ moças operárias, prostitutas meninas/ lá do breu das brumas,/ vem chegando a bandeira/ saúda o povo e pede passagem a mulher brasileira.


Joyce







segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Frases Homer Simpson



"Ao contrario do amor , o respeito não pode ser comprado
 O amor é feito só para pessoas jovens e bonitas!!!

Bem, ele pode ter todo o dinheiro do mundo, mas tem uma coisa que ele não pode comprar... Um dinossauro!

Não bebam agua os peixes tranzam nela

Por que colocar meias se eu vou ter que tirá-las daqui a uma semana.

Beber é coisa pra adultos... e crianças com carteiras de identidade falsa

Sei que nunca fui um homem muito religioso mas, se estiver aí em cima, por favor, me salve Super-Homem!

A culpa é minha e eu coloco ela em quem eu quiser

Se algo é difícil de fazer, então não vale a pena ser feito!

Eu não estava mentindo! Estava escrevendo ficção com a boca.

Álcool...A causa e solução de todos os problemas.

Oh não, alienigenas espaciais!!!Não me coma, tenho mulher e três filhos...coma eles!!

Existem três jeitos de fazer as coisas: o jeito certo, o jeito errado, e o meu jeito, que é igual ao jeito errado, só que mais rápido.

Tenho três filhos e nenhum dinheiro...por que não posso ter nenhum filho e três dinheiros??

Nunca diga qualquer coisa a não ser que tenha certeza que todo mundo pensa o mesmo.

Chorar não vai trazer de volta seu cão, a não ser que suas lágrimas tenham cheiro de ração.

O casamento é o caixão, os filhos são os pregos!!

Eu nuca peço desculpas, Lisa. Sinto muito, mas é assim que eu sou...

A TV me respeita. Ela ri comigo e não de mim.

Existe três frases curtas que levarão sua vida adiante: 'Não diga que fui eu!', 'Oh, boa idéia, chefe!' e 'Já estava assim quando cheguei"


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Pai afasta de mim esse cale-se!


O que eu quero dizer aqui neste post é um pouco delicado, mas eu preciso dizer, porque não sou de ficar calada, e diga se de passagem delicadeza não faz meu estilo, mas vou tentar.
Semana passada eu assisti "Batismo de sangue" fazia tempo que queria ver este filme, eu fiquei chocada, tanto que quando terminou eu tentei voltar para os meus estudos e não conseguia concentrar, não só porque as cenas são fortes, mas mexeu muito com minhas estruturas. Bom, só pra esclarecer, o filme é uma história real, baseada no livro de Frei Beto, e conta a luta de alguns Freis Dominicanos no combate contra a ditadura. A história também, menciona o sequestro do embaixador dos EUA, feito pelos "terroristas" terrorista era quem lutava contra toda violência da época, e o sequestro foi uma espécie de moeda de troca, pra libertar alguns presos políticos.

Enfim, o filme mostra como as pessoas eram torturadas, e as vezes mortas durante a tortura, muita crueldade, eu tive que reconhecer durante aquelas cenas que não tenho menor possibilidade de ser heroína, ou de lutar pelo meu país e pelo povo se for pra expor minha pele daquela maneira, ainda mais, quando o povo por quem se luta nem sabe o que está acontecendo, você perde sua casa, sua liberdade, sua dignidade, perde amigos, enquanto as pessoas por quem você faz tudo aquilo está num bar discutindo futebol.
Hoje mesmo, quase ninguém sabe o que acontecia naquela época, e acha tudo muito exagerado, irreal, diria até surreal, há quem diga que tudo era muito melhor durante a ditadura, não havia tanta violência, havia o toque de recolher o os jovens não viviam se embebedando. 

Pois é! Fico pensando se mudariam de idéia se vissem as cenas de tortura, porque ouvi falar, não é nem imaginar... Tem mais, não há nada que me irrite mais do que quem não tem a capacidade de pensar por si, de construir um ponto de vista totalmente desvinculado de meios de comunicação dominantes, vai ver é por isso que muitas vezes sou do contra, só pelo prazer de o ser.

Mas o que tem especialmente me irritado ultimamente, é o fato de as pessoas mudarem de idéia conforme o movimento da mídia, cara na boa, meu voto no segundo turno é pra Dilma, não votei nela no primeiro turno, e estava inclinada a votar em branco, mas será como soltar um grito preso na garganta, primeiro, vem alguém me dizer que não vota nela porque a CNBB pediu que não o fizesse, pelo fato dela ser abortista ou porque ela separou do marido a muitos anos, e inclusive porque ela é, foi, terrorista, e é comunista, vai transformar nosso país numa ditadura... É! Logo ela, que sofreu tortura durante 22 dias, levou choques, passou dias no pau de arara, (não é caminhão) e quem dirá o que mais ela passou la? E me pergunto como ela sobreviveu, porque era tortura mesmo! Tudo para lutar contra o regime ditatorial. E me desculpe essa pessoa em questão, que eu amo e respeito muito, mas não votar em alguém porque a CNBB pediu? Cara, a CNBB é feita de homens, (respeito muito), mas eles não são infalíveis, e erram, já erraram tanto em nome da Igreja, já queimaram santos, aliás fico pensando o que meu pai diria se soubesse que a Dilma foi considerada a Joanna D'arque da revolução armada na época, Ahhhhh!!!!!!!!!! Ela usou arma? Usou, as armas devem ser escolhidas de acordo com os adversários, e pra arrematar, fiquei puta com a capa da VEJA de duas semanas atrás, revista nojenta que serve a direita desde sempre, só faltou dizer: "Votem no Serra!" Sabe o que é pior? Algumas pessoas até se solidarizam com o sofrimento de quem morreu, sofreu ou perdeu alguém na ditadura, mas votam nas mesmas pessoas que estiveram no poder naquela época. Eu até fico calada quando me chamam de inculta por não ASSISTIR AO FILME  do Harry Potter, ou na mesma ocasião diz: "como dizia Oscar Wilde a unanimidade é burra!" Valei-me Nelson Rodrigues!! Depois a inculta sou eu... Mas tenho vontade de gritar quando tentam me impor coisas contrarias a obviedade, ou ao menos não ouvem  meu ponto de vista por ter uma visão turvada pelos meios de comunicação.



Pau de arara, era assim que as pessoas levavam choques, queimadura com cigarros, murros, pauladas e pontapés, etc. etc. etc. até perderem a consciência e serem acordados para mais uma sessão.


Sala de tortura


Alguns filmes sofre o assunto que devem ser vistos:
O ano em que meus pais saíram de férias.
Zuzu Angel
O que é isso companheiro
Batismo de sangue.











domingo, 10 de outubro de 2010

À minha querida avó

 O texto que vou postar a seguir é um conto belissímo de Augusta Faro, uma escritora goiana de quem gosto muito, e esse conto em especial, além de ser o meu preferido do livro "A Friagem", é uma história que mexe bastante comigo, pelo fato de reconhecer a pessoa do conto.

Vejo minha avó materna em cada palavra da história, toda vez que lia esse conto eu me emocionava, sem exagero, eu sentia a presença de minha querida avó, via o rosto sofrido dela, a tristeza em seu olhar, e me impressionava o fato do conto parecer ter sido escrito pra ela, por causa dela, mas a verdade é que a história de minha avó, apesar de ter uma tristeza muito peculiar, é igual a de tantas mulheres de sua época, que viveram em sua gaiola.

A Gaiola por Augusta Faro


Porque minhas tranças estavam macias e lustrosas, a pele de meu rosto sabia a fruta veludosa, fresca e furta-cor, deitei-me naquele dia sob a telha de vidro da gaiola, na longa rede cheirosa de sabão preto feito em casa mesmo. Foi esse o início de um destino esquerdo, que me marcou a testa a fogo e me fez arrastar uma banda do coração como um toco de carne empedrado pela vida afora. Daí mais um pouco fui embranquecendo os fios do cabelo da fronte, e meus olhos acharam por bem esburacarem-se parecendo por fim a dois lagos meio verdes meio azuis, esfumaçados pela neblina que saía da chaminé daquela casa onde, à beira do fogão, encostei meu umbigo temperando as sopas dos meninos e pondo o leite pra ferver, porque desde cedo me secaram as tetas e o jeito era recorrer ao leite das cabras do quintalão de pedras e, também, porque minha bisavó, que ainda falava e orava com um fio de voz e se cobria num canto do quarto escuro, como uma mancha no ermo, dizia e repetia que crianças de dentes fortes e olhos vivos devem beber leite de cabras já que as mães se secam muito cedo, por dentro e por fora de tanto arrancarem pedacinhos de carne e do suco de ossos e sangue para sovar o dia do marido que e-vem chegando, levantando a voz como se nascesse rei e o bando de filhos seus primeiros súditos.

E alisava o bigode e a traseira das ajudantes da mãe de olhos afundados e sempre prenhe e murchada no silêncio, e mesmo que se desse corda nos relógios, eles pouco diziam.

Naquele atropelo, nem sabia mais se seria eu aquela de tranças macias, com enormes riscos de fio de ouro ou se era aquela da parede suspensa na fotografia oval de minha tia, já entrada em anos, tendo um xale preto nos ombros e um véu cheio de buraquinhos e muito escuros lhe tapando o olhar e de fora os beiços que mais se afinaram, porque pararam de rir antes da hora.

E o homem de botas chegava pronto para o almoço e queria as travessas areadas na mesa de forro branco, e que não demorasse o vinho e que não fizessem barulho para não atrapalhar a ouvir o próprio mastigar e que não interrompessem seus pensamentos sérios, porque só ele quem pensava na casa e o resto era gente feita de barro duro e mole, mas que de alguma forma servia-lhe para ajeitar a cama, a mesa, o banho e as necessidades mais urgentes, porque as derradeiras podia arrumar nalguma esquina, de preferência naquelas casas onde as moças nem eram tristes nem eram alegres, mas deitavam tendo sempre um perfume adocicado nos dedos cheios de anéis de pedras de cores meio foscas, pois muitas vezes quando lavavam roupa dos filhos se esqueciam de tirá-los e deixá-los sobre a mesinha-de-cabeceira junto ao chá de erva cidreira, que é minguador do nervoso de cada dia.

E foi entrando o tempo pra lá pra cá, tecendo um rendado feito as cortinas costuradas nas janelas da sala de visitas. E minha voz, que já pouco falava, foi emudecendo de fora para dentro e no que mais emudeci, perdi o jogo da cintura e o gosto da língua. Comecei a repousar três vezes ao dia, sempre de lado, porque abriu uma rosa muito macia e dolorida do lado, esquerdo; todo cuidado é pouco, porque, se ferisse a flor, a carne de meu próprio corpo tremia tanto, que poderia cair no assoalho mais parecido a um espelho de tanta cera. Pouco é a minha valia e serventia agora e, por isto, passei a ficar no escuro, embora não chegasse nem  à metade da idade de minha bisavó, que ainda vivia e num fio de voz orava e danava com as coisas das quais não apetecia.

Minha mãe, por ser morena como uma índia, nunca dormia é feita de sereno não cansava de trabalhar nas tarefas de agulhas, fazendo uns panos compridos, outros coloridos e enfeitando a casa da família inteira. Ela até se misturava com o sol, que nascia e que entrava, não parando a sua labuta, a não ser por poucas horas, quando o silêncio e os cachorros no escuro sentiam que a noite era pesada demais.

Por causa dos quefazeres todos e do aloite com a vida, minhas veias murcharam nos braços e as coisas me caíam das mãos dado à fraqueza que rodeava meus pulsos.

De vez em quando, alguém entrava no quarto e bem eu ouvia "precisa de alguma coisa?", mas o que eu precisava ninguém me dera nunca, desde que vagi primeiro. Também a minha voz pouco queria sair e quem pergunta nem sabia se haveria resposta ou estava com pressa, já fechava a porta atrás de si, e nem que eu gritasse não ouviria mesmo. Mas eu não gritava nunca, aliás, pouco gritei enquanto mais forte. 

Foi por isso que no espelho do quarto me vi pela última vez, com jeito de quem veio errado viajar no mundo.

O espelho ainda está la pendurado, mas as janelas abriram e as moça, filhas das filhas que carreguei no ventre se olham nele mas não abaixam as pestanas, nem calam a boca. Pelo contrário, falam muito umas com as outras e com os homens la delas. Até que não me preocupo mais, quase nem é preciso, porque essas moças abriram as portas e janelas, arejaram as casa e nem todas vão se deitando sobre a telha de vidro enluarado nem ficam encantadas feito bonecas de louça quando lhes alisam os cabelos e os pêlos. Elas abriram todas as janelas e vejo que o sol entra com vontade, deixando um rendado na tábuas, de mode que os piados delas são fortes o bastante para que não as fechem na gaiola nem a dependurem no caibro mais alto da varanda, igual foi acontecido comigo e muitas mulheres de minha geração e de muitas outras gerações antes de eu nascer.

Nota: quando minha avó foi embora, foi preciso ser colocada em seu caixão de lado, pois só se deitava assim por causa da ferida que se abriu do lado esquerdo de seu corpo. 

sábado, 9 de outubro de 2010

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante...

... Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

Contrariando padrões por mim estabelecido sobre esse blog, de só postar texto meu, há ocasiões que a inspiração foge pra tão longe que seu retorno é demorado, e há tantas coisas lindas que merecem ser divulgadas.
Primeiro quero dizer que me reservo ao direito de mudar de opinião, de rever conceitos, de pensar direito, estou dizendo isso porque eu andei meio desacreditada com a Marina, para dizer a verdade peguei verdadeira antipatia por ela, pois tinha a impressão de que ela estava muito apelativa no começo da campanha, tipo, "pobre, negra e mulher", sem falar que ela andou postando certas coisas em seu blog, que, verdade seja dita, concordo totalmente com ela, mas acho que não é coisa pra candidata a presidência sequer pensar, quem dirá divulgar.
Eu seguia disposta a votar em branco,  não sei se para me vingar da pretensão da Dilma ou da antipatia do Serra, embora os dois sejam antipáticos, eu fui cada vez mais me afeiçoando a Marina, mesmo tantas vezes me lamentando por ela ser tão mal assessorada, e em tantas oportunidades em que podia e devia falar bem, se perdia em sua prolixidade, até que, pesquisa aqui, procura dali, fui conhecendo sua vida, seus feitos, seus sofrimentos, fui cada vez mais respeitando-a e admirando-a, tal qual aconteceu com meu amor por Frida que começou com uma aversão que parecia inversível, achava sua obra apelativa, sofrida, e achava que ela só queria atenção e que todos sentissem pena de seu sofrimento, pra mim ela era melancólica e depressiva. Então ao conhecer sua vida, seus sofrimentos e sua capacidade de superação, apaixonei-me irremediavelmente, e suas obras antes tristes e feias, tomaram novas formas e cores diante de minha retina.
No entanto mesmo admirando e respeitando Frida, ainda sim tenho minhas reservas com relação a ela, e com a Marina não é diferente, reservas essas, que não vem ao caso, e é muito particular. Por que estou mencionando a Frida kahlo? Por que tem a ver com o texto a seguir: 

A fome de Maria por José Bessa Freire:




Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.

Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come. Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana. Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.

Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados. De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe sefor sacramentado pela escola e que tal saber é condição *sine qua non* para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.

A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”. Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.

A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?

O mapa da fome 

A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre. Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de
mortalidade infantil. 

Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.

A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas noseringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever. Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando. Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.

Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta. Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e
estimular o manejo florestal. Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

José Bessa Freire, Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ)epesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)